Querem tramar o Abel
O que talvez não impere é o bom senso dos jornalistas. É sabido que não são os autores das notícias quem escolhe o título e faz o destaque. Por isso, títulos como
- OPA PT: Cavaco chama Abel Mateus por atraso na decisão (DE)
- Cavaco chama Abel Mateus e pede rapidez na OPA (Diário digital)
- Cavaco chamou Abel Mateus para acelerar análise da OPA da Sonaecom (Público)
O maior problema não é esse. Lendo um pouco da notícia do DD, ficamos a saber que
Segundo diz o DE, a conversa decorreu num clima normal mas em que Cavaco terá sensibilizado Abel Mateus para o impacto que estes atrasos tinham na imagem do país, e como isso fragilizava a visão externa de Portugal – que tem de se preocupar cada vez mais em ser um local atractivo para o investimento.
A chamada "fonte oficial" (sempre tão útil e discreta quanto obscura) apenas confirma estes encontros, explicando que estão inseridas nos contactos normais do PR. Diz ainda que "o PR não torna público o conteúdo das suas audiências".
Perante isto, como é que se explica que se faça notícia de que a conversa decorreu num clima normal? Quem estaria dentro da sala, para dizer se o clima era normal ou anormal? E se o PR não fala - e muito bem - do conteúdo das suas conversas, quem é a personagem que traz a Público as restantes especulações da notícia, condimentadas, como convém, por tempos verbais que não comprometem ninguém? Qual é o interesse de uma notícia que não informa, que apenas levanta um clima de suspeita e que vem dar corpo ao "coro de críticas" que se resume a uma frase mais ou menos feliz de um Ministro? Qual é o interesse de uma notícia que não o é, porque ainda por cima "nos últimos dias não se realizou nenhum encontro"? "Os atrasos da equipa de AM" só o começam a ser no dia 15 de Dezembro, como mais adiante diz a pseudo-notícia.
A impressão que fica é que o artigo não passa de um conjunto de semi-banalidades, numa tentativa barata de agitação, que por alguma razão teve direito a primeira página. A isenção, por estes lados, não abunda.