segunda-feira, dezembro 12, 2005

Eleições no Chile (III)

Já agora, parece-me interessante comparar o que aconteceu no Chile com o que se passa em Portugal: Michelle Bachelet tinha a maioria absoluta uns meses antes das eleições, altura em que a oposição se dividiu em duas facções, a do candidato oficial (que ficou em terceiro lugar), e a do candidato que se revoltou contra o partido (e que vai disputar a segunda volta). A candidatura Bachelet descansou na vantagem que tinha, e está em vias de perder as eleições.

Será que em Portugal vai acontecer o mesmo? Não acredito: acho que o Cavaco vai ganhar, mas o Chile mostra que tem de trabalhar até ao fim.

9 comentários:

Anónimo disse...

E já agora se não ganhar????
que perdemos nós com isso????
Apenas um possivel presidente amargurado e que não sabe comer em público....

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Meu caro Jorget

Se não ganhar, fica a perder o cargo de PR pois as outras opções são das piores que é possível.

Podemos não perder nada, o que provavelmente é uma vantagem em comparação com o que perderíamos se algum dos restantes candidatos vencesse.

E por último, a sentir amargura não é em Cavaco, mas em não-Cavaco...

Abraço

Anónimo disse...

Meu caro Bruno Gonçalves, só para dar um exemplo, será que quando o Soares lá esteve foi assim tão mau para poder ser considerado "o pior possivel", mesmo que o Cavaco passe o tempo a dizer que esses foram os melhores tempos para portugal?
A vantagem de Soares nestas eleições é talvez uma única... e mórbida.... é que é o único candidato apenas para 5 anos, o que o fará sem dúvida o menos mau deles todos.

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Jorget,

A vantagem que referes de Soares, revela bem a tua opinião sobre o cargo de PR. Não digo que seja algo mau. Se assim é, devias estar bem mais descansado com estas eleições.

Mário Soares foi PR numa altura completamente distinta, e em que no executivo estava Cavaco Silva. Se considerarmos que foram os melhores anos de Portugal, temos um contra-senso a Soares, já que o número de vetos que este utilizou contra o executivo de Cavaco foram um pouco elevados...

O problema de Soares não está na idade (embora não seja um factor favorável, sejamos realistas), mas nas suas visões que tem para Portugal, que não se adequam às circustãncias em que vivemos. Não considero que Cavaco Silva reúna todas as qualidades para exercer o cargo de PR de uma forma perfeita, achando que na política portuguesa haveriam melhores escolhas. Mas entre os candidatos, aquele que melhor preparação, mais conhecimento e maior empenho terá no cargo de PR, não tenho dúvidas em afirmar que será Cavaco Silva.

Abraço

Anónimo disse...

Caro bruno,
ao contrário do que pareces afirmar, entendo o cargo de PR da maior importância mas, por isso mesmo, e tendo em vista que o espectro dos candidatos que se apresentaram e têm alguma hipotese de ganhar me parecer invulgarmente mau, prefiro neste caso que ganhe o que torne esta eleição mais transitória. Neste caso será o Soares sem dúvida.
Relativamente ao Cavaco mesmo entre um conjunto de maus candidatos acho-o sem dúvida o pior deles. O cargo em causa é um cargo com enorme poder representativo e de bastante trabalho na obtensão de consensos para o qual Cavaco está farto de dar provas de que não é capaz. Lembra-te que por vontade dele as gravuras do Coa a esta hora já teriam aprendido a nadar e que cargas sobre estudantes a propósito das propinas, nos polícias a propósito da criação de uma associação sindical e nos utentes da ponte a propósito de um aumento das portagens, diz bem da sencibilidade cultural, social e capacidade de diálogo deste candidato. Até era capaz de dar de barato que para algumas pessoas ele possa ter sido um bom PM mas, para PR exige-se uma pessoa com um perfil que Cavaco nunca terá.
Abraço

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Jorget,

Continuamos a bater na mesma tecla. Sim de facto, já compreendo a tua posição. Não gostas de nenhum candidato, e desejas umas novas eleições com novos candidatos. Para isso apoias Mário Soares, de modo a que ele saia o mais rapidamente de Belém, independentemente do que ele lá possa fazer. Não creio que seja uma boa estratégia, mas esta é a minha opinião.

"(...) bastante trabalho na obtensão de consensos para o qual Cavaco está farto de dar provas de que não é capaz."

Desculpa-me, mas discordo completamente. Vejamos que Cavaco esteve envolvido em inúmeras negociações, durante o seu executivo para reformar o sistema de ensino (que estava uma lástima), a adesão de Portugal a diversas Organizações Económicas entre outras negociações bastante difíceis. Desta forma, não acho este argumento muito favorável.

Eu não afirmo que Cavaco teno um perfil ideal para PR, existem pessoas na direita muito mais capazes e com melhores capacidades para exercerem o cargo de PR, mas continuo a afirmar que Cavaco é o que melhor preenche os requisitos.

Todavia, e voltando à tua estratégia inicial, fiquei com uma dúvida.
Daqui a 5 anos irá novamente haver eleições. Se Cavaco for eleito, e como consideras que é o pior candidato não deverá fazer um grande trabalho. Assim, iria a eleições com outros candidatos (aquilo que desejas), e seria confrontado com melhores candidatos. Seguindo o teu raciocínio, este não teria grandes hipóteses de vencer... Ou não?

Se assim fosse, não seria indiferente apoiares Mário Soares ou Cavaco Silva... Certo?

Abraço

Anónimo disse...

Caro Bruno
Para começar eu não apoio o Soares a não ser que vá a uma segunda volta. Terá o meu voto assim como apoiarei qualquer um dos outros três nas mesmas circunstâncias. Esta posição nada tem a ver com direita ou esquerda mas apenas com a personalidade dos candidatos em questão. Naturalmente penso que se esse cenário se colocar só Soares poderá ter alguma hipótese.
Quanto ao Cavaco penso que ao contrário do que dizes e a propósito dos factos a que aludi mostra, para mim de forma clara, que é um homem teimoso e irrascivel já que em todos os casos se mostrou absolutamente inflexivel. Argumenta o Cavaco que as cargas policiais foram importantes para manter a autoridade do estado. Para comparar-mos a diferença de estilo basta ver o que aconteceu recentemente com a manifestação dos militares. O Sócrates avisou falou com as chefias militares e no dia seguinte foram movidos processos de averiguação aos envolvidos e posteriormente sancionados. O cavaco é, convenhamos, mais de tentar apagar o fogo com gasolina. Nessa altura fomos tristemente notícia na Europa e pelos piores motivos e não era caso para tanto já que o poder não estava a cair na rua.
No Cavaco existe ainda uma outra coisa que, a meu ver, o deixa em desvantagem perante os outros. É que não existe Cavaco nem antes nem depois do seu consolado de PM. Com excepção de um discreto lugar de Sec. de Estado no governo de Sá Carneiro antes e o lançamento da autobiografia política depois e, mais recentemente, o fratricida artigo da má moeda, não mais existiu Cavaco. Ora um homem que agora se arvora em independente e que acha que a política não se esgota nos partidos não deveria ter o cuidado de manter alguma intervenção cívica que revelasse a preocupação que os tempos de Guterres lhe parecem ter causado. Não te parece que ao futuro mais alto magistrado da nação é de exigir um pouco mais? De cultura de intervensão pública continuada, de sensibilidade aos problemas que afectam a sociedade? Em suma ser algém que a sociedade tem em conta permanentemente. (Compara com Marcelo Rebelo de Sousa ou Pacheco Pereira só para dar exemplos da direita)
Estes são só alguns motivos mais pelos quais acho que Cavaco não acrescenta prestigio ao cargo que pretende ocupar mas, ao invez, é o cargo que o prestigiará a ele.
Só uma questão... achas mesmo que o ensino superior está hoje melhor? talvez um pouco mais democratizado....ok
Relativamente à questão que colocas no final:
Como deves saber as eleições não se ganham... perdem-se. Ou seja um candidato tem de ser efectivamente muito mau para perder um segundo mandato. E agora dirás tu - mas então ele não era do pior que há. A resposta podes encontrá-la numa breve avaliação e comparação entre os primeiros e segundos mandatos dos vários presidentes que tivemos e verás que eles são muito mais irrasciveis e interventivos no segundo mandato. O Eanes formou um partido o Soares desatou a vetar diplomas como dizes e o Sampaio até dissolveu um parlamento com uma maioria parlamentar.
Por este motivo penso que se o Cavaco ganhar vai fazer um primeiro mandato sofrivel e preparar-se para um segundo muito mais interventivo (e o que já se ouve por aí não é nada de bom nomeadamente as hipoteses de personalização do regime...)
Agora relativamente à tua última questão direi que me parece um pouco absurdo que se o Cavaco perder de novo uma eleição presidencial volte para concorrer uma terceira vez. Penso até que, nesse caso, nas próximas eleições nenhum dos candidatos actuais deverá apresentar-se. O que será um sossego para todos nós.

mais dez anos de Cavaco....não...por favor.

Um abraço
Jorget

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Jorget,

Se não apoia Soares quem apoia na 1ª volta. Ou espera pelo candidato que quiçá passará à 2ª volta?

É muito bonito falar em perfil e não em esquerda e em direita, mas sejamos francos. A esquerda não pode com Cavaco embora ele se assuma como um social-democrata e esteja muito mais à esquerda do que se pensa.

Quanto ao curriculum de Cavaco não poderia estar mais em desacordo. Eu não gosto nem tenho particular afinidade por políticos completamente embriagados nesta vida. A razão por Cavaco apenas ter estado na política quando foi necessário, é um bónus. E não está certamente menos informado sobre a realidade nacional e internacional, pois não é necessário ocupar cargos de empresas ou secretarias de estado para estar ambientado com o clima político. É verdade que poderia ter sido mais interentivo, mas essa foi uma escolha do próprio, e não é por isso que considero que esteja menos preparado para o cargo.

Quanto à questão do ensino, e outras áreas, basta compreender que após 1974 o ensino não tinha sofrido nenhuma alteração. Cavaco foi o único que empreendeu uma reforma profunda nesse sistema e outros. Não digo que tivessem ficado perfeitos, longe disso, já que hoje em dia ainda é necessário muitas mudanças, mas não existem dúvidas que se alterou para melhor inúmeras coisas.

Não acredito que Cavaco fará um primeiro mandato sofrível como indicas, já que ele está farto de dizer que terá um papel activo. As pessoas têm óptima memória para este tipo de coisas. E também não acredito que tentará presidencializar o regime, como muitos têm dito. Caso tentasse, teria a minha oposição.

Compreendeste mal a minha última questão, pois se Cavaco perdesse estas eleições, obviamente não acreditaria que se candidatasse mais alguma vez. Mas enfim, estou confiante que as coisas vão-se resolver à primeira volta.

Sou muito franco contigo, acho ridículo esse pavor com que várias pessoas olham para Cavaco e o seu período de 10 anos. Estou muito mais preocupado e tenho muito mais atenção neste governo, que a pessoa que está na PR.

Abraço

Anónimo disse...

Catrapau....Ganhou....Parabéns